1º Encontro sobre a Região da Arrábida e Estuário do Sado


(foto de Daniel Correia)
Realizou-se no passado sábado, dia 10 de Maio, no Convento dos

Capuchinhos da Arrábida, em Setúbal, o 1º Encontro da Região da
Arrábida e Estuário do Sado, subordinado ao tema Desenvolvimento
Sustentado: Utopia ou Imperativo?, organizado pela Associação dos
Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado e patrocinado pela Fundação
Oriente, Câmara Municipal de Setúbal e Festróia.

Perante um auditório muito participado, tiveram lugar dois painéis
onde intervieram figuras do meio académico e científico, com abundante
obra publicada sobre a matéria.
Antes do 1º painel, Carlos Sargedas, apresentou várias fotografias do
seu livro Vertigem Azul, alguns dos temas salientados nesta
apresentação são as diferenças geológicas entre a Arriba Fóssil da
Costa da Caparica, atravessando os Planaltos e grandes falésias do
Cabo Espichel, passando pela "grandiosa" Serra da Arrábida e Serra do
Risco até à Península de Tróia acabando nos Pântanos do Estuário do
Sado.
Assim e durante a manhã evoluiu o 1º painel constituído pelos
Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, fundador do PPM, ex-ministro,
criador do Corredor Verde de Lisboa, Dr. Miguel Magalhães Ramalho,
geólogo, fundador do Partido da Terra e o Dr. Antunes Dias, biólogo e
ex-Director da Reserva Natural do Estuário do Sado e ex-director da
Reserva do Estuário do Tejo e uma das pessoas que mais investigou a
ecologia das zonas húmidas e a vida estuarina. Durante a tarde, um 2º
painel constituído pelo Eng. Delgado Domingos, professor do IST, Rui
Berkmeyer, engenheiro do ambiente e membro da Quercus e Duarte
Machado, ex-vereador do Turismo e assessor da CMS.

O Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles na sua intervenção lamentou o
abandono do espaço rural e das aldeias e a concomitante destruição da
agricultura, substituída, em muitos casos, pelo pseudoturismo dos
campos de golfe e dos PIN e criticou a prevalência dos critérios
economicistas e do lucro imediato sobre os da sustentabilidade.
O Dr. Miguel Ramalho colocou reservas relativamente à sobrevivência
das áreas protegidas e chamou a atenção para a necessidade da
preservação da envolvente das mesmas, já que, na sua opinião, estas
não podem funcionar como "ilhas" ou como "museus" da natureza. A falta
da celeridade na justiça foi outro tópico que sublinhou, porque,
disse, ainda a propósito das áreas protegidas, muitas vezes os
prevaricadores saem beneficiados e os cumpridores penalizados.

Na sua intervenção, abundantemente ilustrada, o Dr. Antunes Dias
realçou a riquíssima biodiversidade do estuário do Sado e a sua
importância como "nursery" de juvenis de muitas espécies piscícolas e
mostrou como a delapidação destes habitats têm influído negativamente
nas pescas, já que nos últimos anos as capturas diminuíram para um
quinto relativamente há duas décadas atrás.

O Professor Delgado Domingos realçou o papel da ciência e da
investigação científica e tecnológica no desenvolvimento sustentado e
criticou aqueles que a colocam ao serviço de interesses egoístas,
aludindo concretamente à Comissão Científica Independente de
Acompanhamento da Co-Incineração de Resíduos Industriais Perigosos
(RIP) na cimenteira Secil (na vizinhança do convento).

Foi precisamente sobre a problemática da reciclagem dos RIP,
nomeadamente nos CIRVER, que versou a intervenção de Rui Berkmeyer,
tendo concluído que as quantidades finais de "resíduos de resíduos"
eventualmente destinadas à co-incineração nas cimenteiras são pequenas
e, desse modo, destituídas de interesse económico. O ecologista
explicou ainda os motivos que levaram a Quercus a abandonar a Comissão
de Acompanhamento da Co-Incineração, motivado pelo comportamento pouco
ético da empresa.

Duarte Machado descreveu aquilo que considera o "grau zero" do turismo
em Setúbal, referindo-se aos empreendimentos PIN da costa de Grândola
como "especulação imobiliária" e chamou a atenção para a segmentação
do mercado turístico, para além do "sol e mar", como são os do turismo
da natureza, do património e do ambiente.

Finalmente, coube a João Bárbara, vice-presidente da associação, fazer
a síntese e encerrar o encontro. Para este dirigente associativo a
região da Arrábida e do Estuário do Sado encontra-se numa
encruzilhada, entendendo que é necessário parar para reflectir: "não é
sustentável ambiental e economicamente continuar a permitir que uma
região tão bela, com uma natureza e uma biodiversidade tão ricas,
continue a ser delapidada por um industrialismo obsoleto que depreda
recursos naturais tão preciosos e afecta negativamente a qualidade de
vida dos seus naturais, é portanto, imperativo mudar de paradigma
económico que tenha como alavancas o estuário e o mar, já que Portugal
tem a maior área de exclusão marítima da Europa", disse.


Nota – Dada a ausência da comunicação social, certamente por
esquecimento ou por dificuldade de agenda, tomamos a liberdade de vos
enviar esta síntese para eventual publicação. O Desenvolvimento
Sustentado e a defesa dos valores ambientais também dependem da
capacidade reflectiva e interventiva dos cidadãos e estas da sua
educação ambiental. Concordarão que isso não é possível sem o concurso
de uma imprensa atenta e de qualidade.

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